quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Editorial: 23/12/2009




Faz mais de um ano que eu não faço um editorial. Bom, o ano está acabando, e eu ainda devo publicar duas postagens esse mês. Uma que me pediram e outra que eu estou me devendo e a seguir vou começar uma série de textos relativos a um determinado assunto que eu também estou devendo a um bom tempo.
Por isso não se assustem se o blog de repente parecer meio temático, não é nada disso, é que eu acabei tendo muito a dizer sobre determinados filmes de um certo personagem...

Bom, como todo editorial tem uma historinha, aqui vai uma que é considera por muitos a história mais triste do mundo, que tem tudo a ver com a data (já que pelo menos pra mim é uma época meio melancólica) de autoria de uma grande autor dinamarquês, mas que minha mãe jurava que foi inventada pela minha bisavó:





A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFOROS - Hans Christian Andersen

Era véspera de Natal. Fazia um frio intenso; já estava escurecendo e caía neve. Mas a despeito de todo o frio, e da neve, e da noite, que caía rapidamente, uma criança, uma menina descalça e de cabeça descoberta, vagava pelas ruas. Ela estava calçada quando saiu de casa, mas os chinelos eram muito grandes, pois eram os que a mãe usara, e escaparam-lhe dos pezinhos gelados quando atravessava correndo uma rua para fugir de dois carros que vinham em disparada. Não pôde achar um dos chinelos e o outro apanhou-o um rapazinho, que saiu correndo, gritando que aquilo ia servir de berço aos seus filhos quando os tivesse. A menina continuou a andar, agora com os pés nus e gelados. Levava no avental velhinho uma porção de pacotes de fósforos. Tinha na mão uma caixinha: não conseguira vender uma só em todo o dia, e ninguém lhe dera uma esmola — nem uma só moeda.

Assim, morta de fome e de frio, ia se arrastando penosamente, vencida pelo cansaço e desânimo — a imagem viva da miséria.

Os flocos de neve caíam, pesados, sobre os lindos cachos louros que lhe emolduravam graciosamente o rosto; mas a menina nem dava por isso. Via, pelas janelas das casas, as luzes que brilhavam lá dentro. Sentia-se na rua um cheiro bom de pato assado — era a véspera de Natal —; isso sim, ela não esquecia.

Achou um canto, formado pela saliência de uma casa, e acocorou-se ali, com os pés encolhidos, para abrigá-los ao calor do corpo; mas cada vez sentia mais frio. Não se animava a voltar para casa, porque não tinha vendido uma única caixinha de fósforos, e não ganhara um vintém. Era certo que levaria um corretivo. Além disso, em sua casa fazia tanto frio como na rua, pois só havia o abrigo do telhado, e por ele entrava uivando o vento, apesar dos trapos e das palhas com que lhe tinham tapado as enormes frestas.

Riscou outro. Onde batia a luz, a parede tornava-se transparente como um véu, e ela via tudo lá dentro da sala. Estava posta a mesa. Sobre a toalha alvíssima via-se, fumegando entre toda aquela porcelana tão fina, um belo pato assado, recheado de maçãs e ameixas. Mas o melhor de tudo foi que o pato saltou do prato, e, com a faca ainda cravada nas costas, foi indo pelo assoalho direto à menina, que estava com tanta fome, e…

Mas — o que foi aquilo? No mesmo instante acabou-se o fósforo, e ela tornou a ver somente a parede nua e fria na noite escura. Riscou outro fósforo, e àquela luz resplandecente viu-se sentada debaixo de uma linda árvore de Natal! Oh! Era muito maior e mais ricamente decorada do que aquela que vira, naquele mesmo Natal, ao espiar pela porta de vidro da casa do negociante rico. Entre os galhos, milhares de velinhas. Estampas coloridas, como as que via nas vitrinas das lojas, olhavam para ela. A criança estendeu os braços diante de tantos esplendores, e então, então… apagou-se o fósforo. Todas as luzinhas da árvore de Natal foram subindo, subindo, mais alto, cada vez mais alto, e de repente ela viu que eram estrelas, que cintilavam no céu. Mas uma caiu, lá de cima, deixando uma esteira de poeira luminosa no caminho.

— Morreu alguém — disse a criança.

Porque sua avó, a única pessoa que a amara no mundo, e que já estava morta, lhe dizia sempre que, quando uma estrela desce, é que uma alma subiu para o céu.

Agora ela acendeu outro fósforo; e desta vez foi a avó quem lhe apareceu, a sua boa avó, sorridente e luminosa, no esplendor da luz.

— Vovó! — gritou a pobre menina. Leva-me contigo… Já sei que, quando o fósforo se apagar, tu vais desaparecer, como sumiram a estufa quente, o pato assado e a linda árvore de Natal!

A luz fria da madrugada achou a menina sentada no canto, entre as casas, com as faces coradas e um sorriso de felicidade. Morta. Morta de frio, na noite de Natal.

A luz do Natal iluminou o pequenino corpo, ainda sentado no canto, com a mãozinha cheia de fósforos queimados.

— Sem dúvida, ela quis aquecer-se — diziam.

Mas… ninguém soube que lindas visões, que visões maravilhosas lhe povoaram os últimos momentos, nem com que júbilo tinha entrado com a avó nas glórias do Natal no Paraíso.



Enfim, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo pra todos as 7 pessoas que seguem lendo o blog e pra todas as mais de 70 milhões que jamais leram... hehehehehe!!!!!... e especialmente pra todas as meninas e meninos dos fósforos do mundo...


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Clássicos Ilustrados & Animados: A Origem de Wolverine


Tigre! Tigre! Brilho, brasa
Que a furna noturna abrasa,
Que olho ou mão imortal armaria

Tua feroz simetria?


Reza a lenda que os figurões da Marvel estavam um belo dia numa adega, colhendo os louros do sucesso da editora quando o editor chefe Joe Quesada questionou que história ainda não tivesse sido contada no Universo dos personagens bolado por Stan Lee. Foi quando Paul Jenkins disse: a origem de Wolverine. Independente dessa história, que eu li a muito tempo numa Wizard da vida, ser autêntica ou não, o que importa é que a Marvel decidiu explicar a verdadeira gênese do mais furioso dos X-Men.
Wolverine foi criado em 1974 pelo roteirista Lein Wein e o desenhista Herb Trimble (baseado em rascunhos de John Romitha Sr.) como um agente canadense do Departamento H e membro da Tropa Alfa que se tornava adversário para o Hulk. Tempos depois o personagem foi recrutado por Charles Xavier para a nova formação dos X-Men, alcançando uma fama meteórica. Desde então o assim chamado Logan entrou para o rol dos personagens arredios e misteriosos com a vida envolta em enigmas, o que garantia grande parte de seu charme.

A partir daí uma série de autores procuraram indícios que jogassem luz sobre o passado do baixinho invocado, mesmo que o próprio tivesse que conviver constantemente com uma conveniente amnésia, que o impedia de ter certeza sobre a maioria dos fatos relativos a ele. O poder mutante de cura de Wolverine possibilitou a idéia de envelhecimento retardado jogando os primeiros dias de sua vida pra fins do século XIX, começo do XX, tornando o que existe entre sua origem e os dias atuais um dos passados secretos mais intrincados já elaborados pra um personagem na história da ficção.
E com o correr dos anos a coisa passou do limite do ridículo com os famigerados implantes de memória, colocando em xeque até o pouco que foi revelado. Porém, existem duas histórias basilares sobre a vida pregressa do mutante: Arma X e Origem.

A primeira, escrita e desenhada por Barry Windsor-Smith, mostra através de enevoadas lembranças como Logan foi cobaia do Projeto Arma X, uma organização secreta do governo canadense e teve o adamantium enxertado em seu esqueleto. A segunda, escrita por Paul Jenkins e desenhada por Andy Kubert, é o testemunho de uma jovem de cabelos vermelhos chamada Rose, que viveu no Canadá no fim do século XIX.
Origem é dividida claramente em duas partes. Uma se passa em Alberta e outra no Yukon, ambas localidades do Canadá. No início da trama a então pobre órfã Rose vai trabalhar na mansão da Família Howlett para fazer companhia ao filho doente de John Howlett, James. A mãe de James, Elizabeth, vive reclusa no quarto após uma estadia num sanatório devido a um evento do passado mantido em segredo que envolve o filho mais velho do casal, que teria morrido tragicamente. O pai de John é um velho que aparece de vez em quando para azucrinar o filho, indignado por este ser tão gentil com o neto e tão cordial com os empregados, que por sua vez adoram o patrão, com excessão do jardineiro, um homem rude chamado Logan... que é a cara do Wolverine. Logan detesta John de forma irracional por achar que ele trata os outros bem porque se julga melhor, mas desconta mesmo sua frustração é na bebida e em surras constantes no seu filho, um garoto conhecido apenas como Cão. Desde a primeira vez que vê Cão, Rose pressente que ele lhe causará problemas.

Em que céu se foi forjar
O fogo do teu olhar?
Em que asas veio a chama?
Que mão colheu esta flama?


Com um estilo inicial que lembra o clássico infantil O Jardim Secreto a história acompanha a infância de Rose, Cão e James como três crianças normais brincando nos arredores da mansão, mesmo com o mundo ao seu redor gritando-lhes o quanto são diferentes. Enquanto James é um menino de saúde extremamente frágil e cercado de cuidados, Cão é uma criança pobre e maltratada, marcada por viver à sombra de toda a riqueza da Família Howlett e alimentada pela inveja do pai. Mesmo assim, Rose nota o afeto que os dois tem um pelo outro, como quando Cão salva a vida de James quando ele cai no rio, e James percebe que Cão nutre uma paixão secreta por Rose.
Com o tempo passando e a adolescência chegando Rose e James são afastados de Cão pelos adultos e vemos que a cobiça de Logan pelas posses de John não se limita a bens materiais ao testemunharmos suspeitos olhares que Elizabeth troca com o jardineiro de sua janela. Enquanto Logan já não esconde de ninguém ao redor o que pensa do patrão e atormenta o seu cada vez mais solitário e arredio filho, o avô de James aumenta a pressão para que o neto assuma logo responsabilidades com os negócios. Mas quanto mais o avô faz o pai ceder, mais James se isola dentro de si mesmo. Rose observa que a Mansão Howlett está prestes a explodir, mas ironicamente é ela quem acende o estopim, ao esquecer todas as recomendações da governanta e entrar desavisadamente no quarto de Elizabeth, flagrando as enormes cicatrizes que a mulher de John tem no corpo, como se tivesse sido vítima do ataque de um animal.
Confrontada com a fúria de sua patroa, Rose corre esbaforida para fora da residência, onde tem um encontro inesperado com Cão que, julgando que a garota veio vê-lo, procura agarrá-la à força. Passeando com seu cachorro, James os vê e, mesmo ameaçado pelo filho do jardineiro, corre para avisar o pai enquanto a ruiva se desvencilha de seu agressor. Este fato faz com que John dê um ultimato a Logan quanto ao filho, o que faz Cão se vingar de seu outrora amigo James, julgando que este, além de já ter tudo, quer lhe tirar Rose. James é defendido por seu cachorro, que é morto friamente pelo filho do jardineiro perante os olhos assustados do dono. Enfurecido, John Howlett escorraça pai e filho de sua propriedade, enquanto o velho Howlett o acusa de sempre ter sido mole demais com os criados.

Sem nada mais a perder, Logan e seu filho invadem a mansão armados durante a noite, matam alguns empregados, tomam Rose de refém para levá-los até o quarto dos Howlett, onde o jardineiro pretende fugir levando Elizabeth, por quem evidentemente é apaixonado. Cão persuade Rose a ajudá-los para seu pai não matá-la e, uma vez lá, Elizabeth tenta convencer Logan da loucura que está fazendo quando John aparece e confronta o perturbado jardineiro. Nesse momento, James surge e Logan, surpreso, acaba disparando e matando John diante do horrorizado garoto, que se lança em prantos sobre o cadáver do pai. Cão manda Rose fazer James se calar, mas ele, descontrolado, tem um acesso de fúria, agride Cão no rosto, cegando-o, e fere Logan mortalmente. Rose e Elizabeth, sem entender nada, assistem apavoradas... ao jovem James Howlett berrar como um animal selvagem enquanto garras feitas de osso saem pelas suas mãos!


A seguir ocorre outra cena dramática com a mãe de James, ensandecida, repudiando violentamente o filho, chamando-o de aberração e expulsando-o da casa enquanto atira objetos do quarto sobre ele, que foge transtornado. Desnorteada, Rose corre para acudi-lo enquanto Elizabeth acalenta o corpo... do jardineiro Logan. Cão pede socorro a louca mulher que, já não podendo socorrer nem a si mesma, pega uma das armas caídas no chão e se suicida. Ao ouvir o disparo do lado de fora, Rose leva um catatônico James pra longe dali.

Que força fez retorcer
Em nervos todo o teu ser?
E o som do teu coração...
De aço que cor, que ação?


Aqui cabe uma observação. Até então tudo levava a crer que Cão era Wolverine. O fato de ser na verdade James, numa grande ousadia narrativa de Paul Jenkins, sugere claramente que ele é filho de Logan em vez de John. Afinal sua mãe obviamente tinha caso com o jardineiro, com quem James ficaria parecidíssimo ao crescer. O que significa que os inimigos de Wolverine tinham razão quando o chamavam de filho da puta. Porém, a Marvel até hoje considera John oficialmente como o pai de Wolverine, mesmo que até na adaptação pro cinema tenha sido dito o contrário. Vai entender!

Como Cão foi o único que ficou no cenário da tragédia ele é interrogado e joga a culpa de tudo em Rose. Devido a isso esta não consegue abrigo com seus parentes na cidade e acaba tendo que retornar com James à mansão para falar com o avô dele. O velho, já nervoso pela morte do filho, ao ver as garras rejeita o neto como uma aberração tal qual era seu irmão mais velho.
Embora nunca diga claramente Origem dá a entender que foi esse irmão, dado como morto, quem feriu Elizabeth, enlouquecendo-a. O velho dá um dinheiro pra Rose e James irem pra bem longe e se esconderem e diz que não tem mais nenhum herdeiro.
Os dois conseguem transporte e vão parar no Yukon, região mineradora de vida muito dura. Quem é fã de HQs Disney conhece bem a região como o lugar aonde o Tio Patinhas, também ainda jovem, ficou rico, começando efetivamente a juntar toda a sua imensa fortuna, como narrado em A Saga do Tio Patinhas do cartunista Don Rosa. Será que por acaso Wolverine cruzou com o velho pato muquirana alguma vez? hehehe!!!
Como as garras são retráteis, as mãos de James já haviam voltado ao normal e para mantê-lo incógnito Rose diz que ele é seu primo e seu nome é... Logan. James inicialmente não se adapta ao trabalho pesado, especialmente por ser constatemente atormentado pelo cozinheiro Cuca, mas com ajuda do chefe dos mineiros ele começa a se integrar e achar seu lugar. Principalmente quando, por puro instinto, o rapaz se junta a uma matilha de lobos, que o acolhe com naturalidade, caçando e uivando durante a noite. Rose desconfia dessas saídas noturnas dele, mas nada comenta.
Seu bom trabalho nas minas lhe garante o apelido de Carcajú... ou Wolverine. O jovem não lembra direito da tragéda da Mansão Howlett, no que pode ser considerada uma amnésia causada por seu fator de cura para aliviá-lo do sofrimento. Toda a vez que Rose tenta tocar no assunto ele se esquiva, o que atormenta a ruiva.
Os anos passam, Rose se torna uma mulher bonita, o que não passa despercebido a seu "primo" que não resiste a vê-la tomar banhos de rio. Numa das melhores cenas da minissérie Rose questiona como ele aprendeu a caçar e James mira os seios dela enquanto responde: "É como se fosse uma necessidade."

Teu cérebro, quem o malha?
Que martelo?
Que fornalha o moldou?

Que mão, que garra..

Seu terror mortal amarra?


Porém, o agora chamado Logan, afogado em seus traumas pessoais, é incapaz de uma interação social mais intensa com ela, que por sua vez acaba cedendo às investidas românticas do chefe da mina, fazendo com que James se torne mais distante. Questionando-o sobre sua repentina frieza ele joga na cara dela que o seu então rival lhe ensinara algo que agora ele descobrira ser verdade: que cada pessoa no mundo é sozinha e deve se importar primeiro consigo mesmo.
Em Alberta, o velho Howlett, à beira da morte, se arrepende por ter seguido exatamente esse conselho durante grande parte de sua vida e pede a um homem para que encontre seu neto para se redimir com ele. O homem, que tem o rosto marcado, lhe garante que seguirá o rastro de seu herdeiro... como um Cão.
Enquanto isso, no Yukon, Logan tem sua primeira demonstração de bravura heróica, que tanto o marcaria no futuro, ao arriscar a vida para salvar uma criança do soterramento de uma das minas causado por Cuca, justamente por inveja de Logan. Este não perdoa o gordão ao vê-lo saqueando os pertences das vítimas e aproveita pra ir à forra das surras que levou dele. Mas quando corre pra contar pra Rose ele a encontra nos braços do outro.

Rose e o chefe da mina decidem se casar e ir embora do Yukon (afinal perceberam que só o Tio Patinhas mesmo consegue ficar rico minerando naquele fim de mundo). Pra juntar dinheiro, ele se arrisca lutando numa jaula onde "dois homens entram e um sai" (já dizia a Tina Turner). Paul Jenkins aproveitou essa velha estrutura de torneio pra finalmente mostrar do que James/Logan/Wolverine é capaz, pois é lógico que ele também vai lutar na jaula. Infelizmente as lutas acabam sendo curtas, não dando muitas oportunidades, nem páginas, para Andy Kubert registrar a fúria do baixinho, que o faria famoso mais tarde, e acentuando a sensação abrupta que fica no final da história toda.
Um estranho assassino que estava em busca de Logan observa as lutas e chega a dar um incentivo financeiro à Cuca, que só serve pro gordo levar mais uma surra, assim como o chefe da mina. Mas, por amor à Rose, Logan permite que este o vença, recolha o dinheiro da aposta e parta com ela. Só que a ruiva não aceita ir sem ele e vai atrás de Logan. Antes que ela o encontre, no entanto, o estranho misterioso chega primeiro e aborda o futuro X-Men dizendo: "Howlett! James Howlett! Você roubou meu nome!"

Quando as lanças das estrelas cortaram os céus
Ao vê-las, quem as fez sorriu talvez?
Quem fez a ovelha te fez?

Em meio a um combate violento com Cão, James recobra a memória momentaneamente, recordando como seu pai (no caso John Howlett) morreu assassinado pelo pai de Cão (no caso Thomas Logan... que também pode ser pai de James... ô, rolo!). O caso é que, devido às suas confusas lembranças, James até então pensava que tinha matado John e por isso não permitia a Rose tocar no assunto. Quando esta aparece em meio à multidão que cerca a luta testemunha James prestes a encravar as garras no corpo de Cão e tenta impedir... e então James acidentalmente transpassa Rose com suas garras...
Antes de morrer ela lamenta não ter insistido em contar-lhe sobre a tragédia na mansão. Ironicamente agora o pobre James (que nunca mais usará esse nome) tem motivos reais pra se sentir culpado por matar alguém que amava... ainda que seu poder mutante de cura o impeça de lembrar disso também.
Origem termina melancolicamente, com Cuca saqueando as coisas de James e Rose e atirando o diário dela contendo todos os fatos narrados na minissérie no fogo, enquanto James se embrenha de vez floresta adentro ladeado pela matilha de lobos, ignorando os chamados do chefe da mina pra que ele voltasse, e falando que o que disse anteriormente estava errado.
Ninguém podia viver sozinho.

A segunda parte de Origem não é tão boa quanto a primeira, mas ainda é boa. A sucessão de coisas deixadas no ar como a identidade do verdadeiro pai de Wolverine, o destino de seu irmão mais velho que nunca aparece e a possibilidade de Cão ser o Dentes-De-Sabre chegam a incomodar e pra mim parecem mais manobras do editor Joe Quesada (que deu seus pitacos a ponto de ser creditado como co-roteirista) já pensando em revelar esses e outros segredos em alguma continuação da minissérie. Essa continuação veio na forma de uma série mensal que não é escrita por Paul Jenkins e que boa parte dos fãs considera puro caça níquel, mas que já vale por mostrar Wolverine finalmente se lembrando de todo o seu passado.
Jenkins acabou aproveitando em Wolverine - O Fim (uma série de especiais da Marvel que mostram uma suposta última história de cada um de seus personagens) para mostrar um velho Logan encontrando finalmente seu irmão desaparecido (não o Cão), um mutante com poderes similares aos dele, que lhe propõe dominarem o mundo juntos. Óbvio que isso leva a um confronto e até Dentes-de-Sabre e Rose são citados no meio da história, que também não fez muito sucesso, embora eu particularmente tenha gostado.

Já o Origem original (sim, eu sei que isso é um trocadilho) foi um grande sucesso. Jenkins teve um mérito de criar uma trama que é praticamente um romance gráfico, sem nunca apelar pro romantismo em si. No entanto gerou polêmica com alguns fãs de Wolverine porque em Arma X é dito que as garras de Logan saíram pela primeira vez quando o adamantium foi enxertado em seu corpo e que Origem desmentiria Arma X. Oras, mas a Marvel já tinha desmentido esse fato em particular de Arma X (e não a história toda lógico!) a muito tempo quando Magneto arrancou o adamantium do corpo de Wolverine e ele passou a atuar com garras de osso... o que por sua vez também desmentia outras histórias da Marvel que diziam que as garras não eram parte da mutação.
Enfim, o que importa é que Origem ficou à margem dessa polêmica, apenas procurou seguir o que era tido como verdade na época em que foi feita, se esforçando pra juntar as pontas soltas do complicadíssimo passado do personagem... que nesse quesito só encontra rivais na Xena, A Princesa Guerreira e no Esteban da novela Kubanakan.
Origem só não é perfeita por deixar muitos espaços em branco que depois acabaram não sendo devidamente preenchidos, além de não conseguir se fechar completamente em si como trama. Se, por exemplo, a revelação de quem era Wolverine no meio do relato dos diários de Rose foi fantástica, o clímax com a morte de Rose soa meio fora de lugar pois James tinha acabado de se livrar da culpa pela morte do pai... e se pensarmos que Thomas Logan era seu verdadeiro pai, o crime de parricídio nunca deixou de existir.

Enfim, um enredo rico em nuances psicológicas e caracterizações de personagens (como Cão, Elizabeth, Cuca, Rose e o próprio James Howlett/Logan/Wolverine), mas complicado por excessos e pontas soltas. Ainda assim, nada que justifique o fato de que no longa metragem X-Men Origens: Wolverine TODA esta história seja resumida a cinco minutos do começo do filme!
Um momento em particular da minissérie merece ser lembrado por uma rara combinação de arte e beleza selvagem: enquanto James corre pela noite com os lobos no belo traço de Andy Kubert, Rose lê o poema O Tigre de William Blake, o qual ilustra este texto.

Tigre! Tigre! Brilho, brasa
Que a furna noturna abrasa,

Que olho ou mão imortal armaria

Tua feroz simetria?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Record exibe Tropa de Elite hoje!



Hoje, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009, a Rede Record anunciou a exibição do filme brasileiro Tropa de Elite, um dos maiores sucessos do Cinema em 2007. O polêmico longa-metragem do diretor José Padilha, baseado no livro Elite da Tropa de Rodrigo Pimentel, conta a história do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e sua relação com a PM, o tráfico e a corrupção no Rio de Janeiro à época da visita do Papa em 1997, através da ótica do Capitão Nascimento (Wagner Moura) que busca um substituto para seu posto enquanto acompanha o incío de carreira de dois jovens policiais, Neto (Caio Junqueira) e Matias (André Ramiro).

O filme, que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, começou a fazer sucesso no mercado clandestino dos DVDs piratas (uma cópia não acabada foi roubada durante as filmagens) e logo se tornou uma febre no país, popularizando rapidamente vários bordões do Capitão Nascimento. A Record venceu uma queda de braço com a Globo, que planejava até criar um seriado derivado do filme, pelo direito de exibir Tropa de Elite. A exibição deverá ser entre 22:30 e 23:00 horas se não houver troca de última hora.

E no final de janeiro de 2010 começa a ser filmado Tropa de Elite 2, com Wagner Moura retornando ao papel de maior repercussão de sua carreira, novamente dirigido por José Padilha.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

TOP TOTAL - 15 Melhores Filmes de Policiais Disfarçados




Um dos subgêneros mais conhecidos criados no cinema, principalmente por Hollywood, é o da velha história do policial que se disfarça de algo ou alguém que aparentemente não tem nada a ver com ele, para poder se infiltrar e assim desbaratar alguma quadrilha. Só que ele acaba se identificando com quem deveria prender, vivendo o eterno conflito entre a lei e os fora-da-lei.
Pra mim esses foram os melhores filmes sobre o assunto:




15 - Dois Tiras Meio Suspeitos (Partners, 1992)

Quando uma série de assassinatos cometidos contra homossexuais gera acusações de preconceito por parte das autoridades nas investigações, o capitão da polícia ordena que um detetive machista (Rayn O'Neal) e um detive gay enrustido (John Hurt) simulem ser um casal homossexual para se infiltrarem na comunidade gay. Enquanto buscam pelo assassino eles tem de aprender a conviver.
De cara já começo com essa comédia que alguns definem como filme gay, embora não tenha nada descarado sobre isso no longa. Algumas vezes soa até meio preconceituoso, como na concepção do personagem do John Hurt que atende aquele estereótipo de tímido e franzino que muitas pessoas associam aos gays. No desenrolar da trama o detetive vivido por Ryan O'Neal aprende a deixar seu preconceito de lado, desenvolvendo uma relação ambígua com o parceiro, o que realmente torna triste o final da história, mesmo que o filme seja meio fraco.




14 - Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious, 2001)

Um policial novato (Paul Walker) se infiltra numa quadrilha de ladrões de carros e desenvolve um forte laço de amizade com o líder casca-grossa deles (Vin Diesel)... além de dar uns pegas na irmã do dito cujo.
Bom, esse filme foi feito quando todos os filmes sobre o assunto já tinham sido filmados e ele não se esforça pra inovar em absolutamente NADA! É clichê em cima de clichê. Exatamente por isso fez sucesso e acabou virando uma franquia. Algumas partes parecem cópia-carbono de outros longas, como Caçadores de Emoções e Atraídos Pelo Perigo. Eu acho chato, mas inegavelmente causa um grande fascínio pra quem curte carros. Eles são a verdadeira atração do filme.




13 - Miss Simpatia (Miss Congeniality, 2000)

Para prender um grande criminoso que decidiu ameaçar o concurso de Miss EUA, um agente do FBI (Benjamin Bratt) lidera uma força tarefa, que seleciona uma desajeitada e desleixada agente (Sandra Bullock) para se disfarçar entre as concorrentes, podendo ficar até as finais e protegê-las do assassino. Como a policial tem dons muito mais intelectuais do que estéticos, recebe a ajuda de um especialista em concursos de beleza com a carreira em baixa (Michael Caine), que entra em choque com sua nova protegida, enquanto ela enfrenta a oposição da organizadora do concurso (Candice Bergen), uma antiga e arrogante participante, e se aproxima das outras candidatas e do excêntrico apresentador (William Shatner).
Incrível como esse filme pegou todos os clichês de filmes policiais, de personagens à reviravoltas, e conseguiu encaixar tudo numa comédia que, se não é hilariante, consegue ao menos ser simpática, o que hoje em dia já é muito. Foi um dos últimos filmes que a Sandra Bullock estrelou no gênero que deram certo. Apesar do excesso de clichês afetar o timing de humor da história, ainda é um bom entretenimento e Michael Caine e Wiliam Shatner brilham em seus papéis.




12 - Um Tira no Jardim de Infância (Kindergarten Cop, 1990)

Um policial casca grossa (Arnold Schwarzenegger) e sua parceira seguem a trilha de um grande traficante de drogas e acreditam que ele possa estar atrás da ex mulher e do filho, que estaria matriculado com um nome falso numa escola primária. Para descobrir o garoto a policial deveria se disfarçar de professora, mas sofre um intoxicação alimentar, fazendo com que seu parceiro a substitua. Como ele não entende absolutamente nada de crianças, é feito de gato e sapato pela turma. No entanto, ao adaptar sua disciplina rígida ao grupo, acaba conquistando os pequenos e criando um elo emocional. Logo ele se envolve com uma professora (Penelope Ann Miller), mãe de um dos garotos e descobre que eles são a ex e o filho do bandido, que volta para se vingar.
Lembro que Schwarzenegger surpreendeu o mundo por conseguir brincar de uma forma inteligente com o seu próprio estereótipo de herói de ação e as crianças realmente eram um show à parte.




11 - Atraídos pelo perigo (No Man's Land, 1987)

Um policial louco por carros esporte (D. B. Sweeney) se infiltra numa quadrilha de ladrões de carros liderada por um playboy (Charlie Sheen), que só gosta do bom e do melhor. O ladrão apresenta toda uma sedutora vida de glamour e risco e o policial vacila em continuar ou não à margem da lei. Sua escolha o levará a um confronto direto com o novo amigo.
Claramente esse longa foi a inspiração pra Velozes e Furiosos, mas aqui os bandidos tem muito mais classe e esbanjam um estilo mais hedonista. Por outro lado, o final do protagonista aqui pode soar mais conservador, embora não menos coerente. O que mais me marcou eram as cenas do Charlie Sheen menosprezando as ferraris. Pra ele bom mesmo eram os porches.




10 - Assassinato em Segundo Grau (Plain Clothes, 1988)

Uma professora é assassinada e o principal suspeito é um de seus alunos. Inconformado com a situação, o policial irmão do suspeito (Arliss Howard) se disfarça de estudante para se infiltrar no colégio e descobrir o verdadeiro assassino. Mas as coisas não saem exatamente como imagina, pois ele, por mais que tente não chamar a atenção, acaba se tornando o aluno mais popular, conquista a garota mais bonita da escola, se apaixona pela professora mais gata, nocauteia o diretor e vira o rei do baile da primavera!
Esse filme é uma das melhores e injustamente esquecidas comédias adolescentes dos anos 80, com um humor nosense que lembra Te Pego Lá Fora e Namorada de Aluguel. O melhor era que em qualquer outro filme do gênero as peripécias do policial seriam motivo de regozijo, mas nesse filme tudo só atrapalhava a investigação do assassinato.




9 - Duro e Implacável/A Sombra de um Disfarce (Beyond the Law /Fixing The Shadow, 1992)

Um policial com uma infância traumática (Charlie Sheen) se infiltra em uma violenta gangue de motociclistas, Os Chacais, para investigar o tráfico de armas no Arizona. A interpretação visceral de Charlie Sheen é a melhor coisa do filme. Seu personagem sofre uma transformação física deixando, barba e cabelo crescerem, que reflete algo de selvagem que já havia em seu interior.
O longa, que consegue mergulhar fundo no mundo dos motoqueiros, é bem mais sobre esse personagem em busca de uma identidade do que o conflito entre as duas identidades que ele deveria ter. E talvez por isso mesmo embarque cada vez mais na sua própria paranóia... Pra variar, as motos envenenadas roubam a cena na história.




8 - Caçadores de Emoções (Point Break, 1991)

Um jovem agente do FBI (Keanu Reeves) se infiltra numa comunidade de surfistas nas praias de uma cidade da Califórnia para descobrir um grupo de ladrões de banco. Ele faz amizade com um carismático surfista (Patrick Swayze) cheio de filosofias sobre a vida e a natureza.
O surfista leva o agente a experimentar uma sensação de adrenalina e liberdade até então impensada no seu jeito careta de ser. O problema é quando, após um tempo, ele descobre que seu grupo de amigos são a quadrilha que ele está procurando. É quando ele vê que eles não só não estão dispostos a seguir as regras do mundo, mas farão de tudo pra quebrá-las.
Esse filme retrata como até mesmo a liberdade pode embriagar e enlouquecer um indivíduo ou um grupo. Por mais que o personagem do Swayze seja envolvente com seu discurso em prol da vida na natureza e contra o moralismo da sociedade, ele perde totalmente a coerência em menos de 2 segundos na cena em que atira um pobre cachorro em cima do Keanu Reeves pra facilitar sua fuga.
Entre muitas ondas, tiroteios e saltos de pára-quedas, Caçadores de Emoções é um clássico da Sessão da Tarde, mas não é uma obra-prima... a não ser na última cena... a despedida final entre Reeves e Swayze em meio ao mar mais revolto do mundo é mesmo muito marcante.




7 - Donnie Brasco (Donnie Brasco, 1997)

Na década de 70, um policial (Johnny Depp) se infiltra na máfia sob o pseudônimo Donnie Brasco. Apadrinhado por um experiente criminoso (Al Pacino), ele mergulha fundo durante sete anos no submundo sujo e sem glamour dos mafiosos, o que arruina sua vida pessoal e seu casamento, pois sua esposa só descobre a verdadeira ocupação do marido no dia em que agentes federais a abordam para saber porque ele não entra mais em contato com eles sobre suas atividades com os mafiosos a mais de dois anos.
Uma parte marcante é quando o personagem de Depp tem que despedaçar cadáveres com uma serra pra poder facilitar sua ocultação. O momento tão adiado da delação do personagem de Depp acaba sendo a desgraça do criminoso vivido por Pacino. Mas francamente eu achei que um tema desses com esses dois atores poderia ter sido ainda melhor. Hoje em dia, o policial que de fato viveu essa história e sua família vivem escondidos com identidades falsas.




6 - A Outra Face (Face/OFF, 1997)

Um agente do FBI (John Travolta) que teve seu filho morto à tiros por um terrorista (Nicolas Cage) que visava atingi-lo, finalmente consegue prender o criminoso numa grande operação policial. Só que o terrorista acaba em coma, e ele é o único que poderia tirar de seu irmão na cadeia a localização de uma bomba que ameaça Los Angeles. É quando Travolta, relutantemente, aceita participar de uma cirurgia experimental pioneira, aonde secretamente troca seu rosto pelo de seu seu inimigo inconsciente, na tentativa de se infiltrar na prisão e encontrar o irmão deste.
Mas, enquanto o policial toma o lugar do terrorista, este acorda do coma, mata os envolvidos na experiência, pega o rosto do policial pra ele e usurpa sua vida também!
Esse filme é um clássico do cinema de ação, bastante tenso do começo ao fim e pra muitos o melhor trabalho de John Woo nos EUA até hoje. John Travolta e Nicolas Cage dão conta do recado ao assumirem os personagens um do outro na metade da trama. Essa história de troca de face, aliás, foi bastante comentada na época do lançamento do filme. Pra se digerir o roteiro, só deixando passar as parcas explicações sobre como a tal cirurgia também moldava o corpo dos personagens. Como isso não afeta a trama, dá pra levar numa boa. O que eu realmente achei muito forçado, chegando a ser irritante, é a facilidade com que o terrorista consegue virar o jogo contra o agente do FBI, ficando a par de tudo e tomando as providências necessárias com uma tremenda rapidez, fazendo com que seu inimigo, além da bomba, passe a ter que se preocupar em fugir da cadeia e salvar sua família do psicopata fazendo-se passar pelo próprio, já que nem eles nem ninguém sabem quem é quem.




5 - Os Infiltrados (The Departed, 2006)

Um jovem policial (Leonardo DiCaprio) é infiltrado na máfia ao mesmo tempo em que a máfia consegue infiltrar um criminoso (Matt Damon) na polícia. O filme segue mostrando como um policial corrupto consegue ascender dentro da corporação, enquanto um policial disfarçado pena dentro da quadrilha chefiada por um mafioso cruel (Jack Nicholson). Nesse paralelo os dois acabam até se envolvendo, sem saber, com a mesma mulher. A reviravolta ocorre quando, tanto a polícia quanto a máfia, percebem que há um rato em cada facção, tornando a vida dos dois infiltrados extremamente tensa até atingirem um limite insuportável, que desemboca num violento final.
Martin Scorsese refilmou o sucesso oriental Infernal Affairs (Mou Gaan Dou, 2002) e imprimiu a ele seu estilo e ritmo particulares. Leonardo DiCaprio e Jack Nicholson dão um show em cena, mas apesar disso, o filme não conseguiu manter a minha empatia no correr da produção.
O diretor praticamente refez o roteiro todo do filme original. Quentin Tarantino, por exemplo, quando fez Cães de Aluguel a partir de Perigo Extremo, criou uma obra completamente nova. As poucas mudanças entre a trama de Os Infiltrados e sua versão oriental deixaram ele nas cenas finais me lembrando demais justamente o Cães de Aluguel. Tudo isso me fez pensar se valia a pena mesmo refazer todo um filme "estrangeiro" em Hollywood, por mais que Martin Scorsese seja um diretor melhor que Wai-keung Lau. E só os fãs de Scorsese devem saber o quanto é estranho que justamente Os Infiltrados tenha dado o Oscar de melhor filme ao grande diretor.




4 - Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992)

Seis estranhos são reunidos para um grande roubo de jóias, sendo que cada um é chamado apenas por um pseudônimo, referente à uma cor. O filme inicia no final quando todos se reencontram num armazém para tentarem descobrir, em meio à muita tensão, qual deles é um policial infiltrado. A partir daí, o diretor Quentin Tarantino criou uma montagem matadora, fragmentando a história através de cada personagem, aliado a um super-elenco (Tim Roth, Michael Madsen, Harvey Keitel, Steve Buscemi etc.) que tiveram suas carreiras alavancadas muito graças a esse trabalho.
Tarantino se inspirou em Perigo Extremo pra montar a premissa básica, mas alterou todo o resto, criando algo completamente diferente. Seu longa tem uma pegada pop-punky, com estética hiper-violenta, diálogos desconcertantemente envolventes e edição chapante. Uma verdadeira obra-prima cinematográfica. Ao contrário do filme original, só é mostrado o lado dos bandidos e o policial disfarçado só é revelado no último minuto, mas isso não é tão importante, pois o roteiro acaba ficando em segundo plano frente ao puta exercício de estilo de Tarantino no que, pra alguns, é a obra máxima do diretor.




3 - Perigo Extremo (Lung Fu Fung Wan, 1987)

Um filme que começa com uma execução e um assalto espetacular e termina com um sangrento tiroteio e uma tijolada. Ringo Lam criou uma obra que mostra como poucos a dura vida de um infiltrado. Com a execução de um agente e sofrendo muita pressão interna, o inspetor Lau (Yueh Sun) convoca seu sobrinho Ko Chow (Chow Yun-Fat) para se infiltrar numa violenta quadrilha de ladrões de jóias. Este inicialmente recusa pois da última vez que fizera tal serviço se tornara amigo de um criminoso que terminou morto pela polícia após a sua delação, fato este que ainda lhe causava pesadelos. Além disso, estava tentando estabelecer sua vida casando-se com Lily (Jessica Chau), mas sua fidelidade ao tio acaba falando mais alto e ele aceita o serviço, que é bastante dificultado pelo superior de Lau, um jovem e arrogante oficial que está disposto até a torturar e sacrificar Ko Chow para prender a quadrilha. Paralelo a isso, o infiltrado termina encontrando conforto numa reincidente e sincera amizade com Fu (Danny Lee), um dos líderes do bando. A fugacidade da relação entre eles alimenta a sensação de tragédia no fatídico final.
Chow Yun-Fat tem uma atuação demolidora como o homem que é um pária tanto entre policiais como entre bandidos, o que estraçalha pouco a pouco os seus sonhos, numa esperança vã de um dia levar uma vida normal. Rimgo Lam fez ao mesmo tempo um filme de ação e uma denúncia social. A versão do Tarantino se equivale a esta em qualidade na minha opinião, mas pela relevância do tema tratado aqui esse longa ocupa um lugar acima.




2 - Disfarce Fatal (Deep Cover, 1992)

Lawrence Fishburne vive Russel Stevens, um homem que viu o pai morrer na sua frente enquanto tentava roubar uma loja e, ao crescer, para manter-se longe da marginalidade, tornou-se policial. No entanto, para alcançar um grande barão das drogas ele é infiltrado no mundo do tráfico, sob o pseudônimo de John Hull, tornando-se amigo e sócio do advogado corrupto David Jason (Jeff Goldblum). Juntos, os dois ascendem na organização criminosa enquanto Russel é vigiado por um policial honesto que, sem saber do disfarce, tenta reabilitá-lo. O que mostra-se necessário uma vez que a linha entre crime e autoridades se torna cada vez mais tênue. Lawrence Fishburne interpreta brilhantemente o atormentado protagonista que mergulha num verdadeiro pesadelo. Num dos momentos mais marcantes ele diz: "Eu sempre pensei que fosse um policial disfarçado de traficante. Mas na verdade eu sou um traficante disfarçado de policial." Jeff Goldblum também arrasa como o bandido que, ironicamente, torna-se um dos líderes da organização graças à cumplicidade do infiltrado.
Disfarce Fatal é um filme que choca ao mostrar de forma crua o policial traficando, roubando, cafetinando e até matando só para no fim ouvir de seu superior que não interessa mais pegar o homem que eles procuravam, o que deixa o personagem de Fishburne no maior dilema de sua vida: trabalhar pra um sistema corrupto como um dos poucos honestos ou chutar o balde e enriquecer ilicitamente às custas desse sistema? A cena da revelação da verdadeira indentidade do policial disfarçado, pra mim, é a melhor de todos os filmes citados nessa lista pois é o momento em que Russel Stevens se revela não só a David e ao outro policial, mas a si próprio.




1 - Ver-Te-Ei no Inferno! (The Molly Maguires, 1970)

Na Pensilvânia, em 1876, uma comunidade de mineiros formada por imigrantes irlandeses era cruelmente explorada pelos patrões, recebendo muito pouco por um serviço muito difícil e perigoso. Revoltados, eles formam uma sociedade secreta, os Molly Maguires, que comandou a primeira greve contra as companhias de mineração dos EUA e acabaram indo mais longe, cometendo atentados terroristas que causaram a morte de 150 pessoas. Os donos das minas contratam um detetive particular da renomada Agência de Detetives Pinkerton (Richard Harris) e, em parceira com a polícia local, o infiltram na comunidade disfarçado de mineiro. Inicialmente hostilizado por aqueles desconfiados homens, ele logo conquista a confiança e o respeito do líder dos Molly Maguires (Sean Connery) e passa sentir na pele o drama dos mineiros, compartilhando com eles a pobreza e a injustiça, enquanto toma parte ativa na sua violenta luta.
Baseado na história real dos Molly Maguires, esse longa é com certeza o melhor já feito sobre o tema do Top, a ponto de eu achar que ele deve ter sido a base de quase todos os outros sobre o assunto. Nenhuma outra história na Sétima Arte foi tão forte ao retratar a amizade entre o detetive vivido por Harris e o suposto criminoso feito por Connery, nem tão contundente ao tratar do dilema ético e moral do protagonista a ponto de você não ter a menor idéia de que partido ele vai tomar no final da história. Que, aliás, é um dos mais secos e marcantes do Cinema.
"Você não encontrará absolvição aqui."
"Eu sei... Te encontro no inferno."